O Sindicato dos Médicos do Ceará retornou ao Instituto Dr. José Frota (IJF), no último dia 13, e verificou que a situação do maior centro de urgência e emergência de Fortaleza continua crítica. A visita foi realizada pelo presidente interino da entidade, Dr. Luigi de Morais, e a advogada Dra. Vivian Nogueira.
Durante a visita, foi verificado a superlotação do hospital, com diversos corredores com pacientes em macas. Conforme os relatos, a ausência de antibióticos básicos estaria contribuindo para a demora no tratamento de pacientes com infecções e, consequentemente, causando a alta ocupação na emergência.
Além disso, também foi observado muitos pacientes intubados em ventilação mecânica e monitorizados no setor de emergência, que incluiu as salas vermelha e laranja.
Nesta segunda-feira (18), a entidade oficiou o Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (CREMEC), requerendo uma vistoria urgente, tendo em vista que a situação já persiste há dois anos. Também foi enviado ofício ao superintendente do hospital, José Maria Sampaio, e duas manifestações ao Ministério Público do Ceará (MPCE), por meio da 137ª Promotoria de Justiça de Fortaleza – Defesa da Saúde Pública, uma delas trata-se de um documento oriundo de médicos que atuam no hospital, detalhando as dificuldades enfrentadas.
Falta de medicamentos e insumos
Entre os medicamentos em falta, o Sindicato dos Médicos tomou conhecimento que o hospital não dispõe de analgésicos, como cetoprofeno e morfina, além da ausência de vasopressina.
O desabastecimento inclui: ceftriaxona, ampicilina-sulbactam, piperacilina-tazobactam, meropenem, polimixina, sedativos, anticoagulantes, anti-hipertensivos, bicarbonato de sódio, omeprazol e outros inibidores de bomba de prótons.
“Também fomos informados sobre a falta de insumos essenciais no centro cirúrgico, como drenos de portovac, e dificuldades na utilização de equipamentos para neurocirurgia devido ao mau funcionamento, exigindo a abertura de diversos equipamentos até que um funcionasse corretamente”, afirma Dr. Luigi de Morais.
Além disso, o IJF não conta com a disponibilidade de glicose, soro glicosado, agulhas para administração de heparina e insulina, contrastes para exames de tomografia, gel para ultrassom e até itens básicos como álcool e sabão no refeitório.
Outras questões
Os médicos que atuam no IJF também enfrentam outros problemas. A entidade recebeu relatos sobre a condição precária do refeitório, com atrasos no fornecimento das refeições, e ausência de repouso adequado para as médicas plantonistas, que dividem as poucas camas disponíveis com as demais profissionais de saúde, sendo a enfermagem a única categoria que dispõe de repouso próprio.
Ainda na visita, foi verificado que os atrasos nos pagamentos continuam, com exceção dos servidores públicos, que recebem de forma correta e pontual.
Os médicos também relataram que as dificuldades enfrentadas parecem seguir um padrão cíclico associado aos anos de eleições municipais, o que reforça a necessidade de uma análise profunda e de intervenções que transcendam a capacidade dos gestores hospitalares, reconhecidamente competentes e comprometidos, mas limitados diante da complexidade do problema.
Problemas existem há dois anos
O Sindicato dos Médicos do Ceará lembra que a situação do IJF vem se agravando há cerca de dois anos, quando a entidade começou a denunciar o desabastecimento de medicamentos e insumos, e o atraso nos pagamentos da categoria.
A denúncia, inclusive, tornou-se Inquérito Civil de nº 06.2023.00001182-8, pelo MPCE, destinado a apurar a ocorrência de danos efetivos ou potenciais a direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais.
Em julho, a entidade realizou uma campanha em frente ao hospital, chamando a atenção da população para os problemas enfrentados pelos profissionais e pacientes.
O Sindicato dos Médicos do Ceará reafirma seu compromisso com a categoria e reitera que os problemas denunciados já foram relatados a todos os órgãos possíveis, sobretudo, pautaram diversas reuniões com a superintendência do IJF, mas nenhuma medida enérgica foi tomada no sentido de corrigir as irregularidades mencionadas e garantir que o hospital cumpra seu papel como unidade de referência regional em atendimento de alta complexidade.
Foto: Prefeitura de Fortaleza
Fonte: Comunicação do Sindicato dos Médicos do Ceará