Com o passar das décadas, a presença das mulheres na medicina tem se intensificado. Segundo o estudo Demografia Médica 2024, do Conselho Federal de Medicina (CFM), já somos maioria entre os médicos mais jovens no Brasil, representando 58% dos profissionais com menos de 39 anos. Esse avanço reflete uma conquista histórica para uma profissão predominantemente masculina. Porém, a desigualdade ainda persiste, especialmente em questões salariais e de oportunidades.
Apesar de sermos maioria em número, a Pesquisa Salarial do Médico, da Afya, aponta que, em média, mulheres médicas ganham 23% a menos do que os homens, mesmo com a mesma formação. Além disso, as horas de trabalho também são diferentes: enquanto os homens dedicam 54,3 horas semanais, as mulheres trabalham em média 47,4 horas, o que impacta diretamente a remuneração.
A dupla jornada, principalmente para as mães, é outro fator relevante. Médicas com filhos dedicam menos horas à profissão devido às responsabilidades domésticas. Já as mulheres divorciadas com filhos tendem a aumentar suas jornadas de trabalho para compensar essa carga. Esse cenário ilustra as dificuldades de conciliar a vida profissional e pessoal.
Além dos desafios quantitativos, a sociedade médica ainda enfrenta preconceitos. A contratação de homens é preferida, e existem estigmas sobre a capacidade das mulheres, especialmente em especialidades consideradas “masculinas”, como a ortopedia. Essas visões limitam as oportunidades das mulheres no campo da medicina.
A verdadeira equidade na medicina não deve ser medida pelo tempo de trabalho, mas pela qualidade e impacto do atendimento. Para alcançar esse equilíbrio, é essencial que políticas públicas e privadas incentivem a presença feminina em todas as áreas, desde as universidades até os cargos de liderança e especializações complexas.
É hora de sermos reconhecidas pela nossa competência e não pela nossa habilidade de lidar com as múltiplas jornadas que nos são impostas. Já somos maioria entre os jovens médicos e estamos firmemente estabelecidas na medicina. O próximo passo é garantir um ambiente mais justo e igualitário para todos.