Presidente do Sindicato dos Médicos participa de audiência pública no Senado Federal para debater sobre a situação da saúde no Ceará
Dr. Leonardo Alcântara criticou a politica de fechamento de unidades hospitalares e pontuou preocupação com a terceirização da saúde pública

O presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Dr. Leonardo Alcântara, participou na manhã desta sexta-feira (05), de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, em Brasília, para discutir a situação da saúde no Ceará. A audiência foi requerida pelo senador Eduardo Girão e a senadora Augusta Brito.

O presidente da CDH, senador Paulo Paim, abriu a audiência e destacou suas expectativas para um debate amplo. Em seguida, o senador Eduardo Girão enfatizou que a audiência foi motivada após uma visita que realizou no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), em Fortaleza, em que presenciou crianças em macas, cadeiras de plásticos nos corredores de emergências e famílias alocadas sem estruturas adequadas. “Crianças estão morrendo, é um cenário de guerra”, afirmou o parlamentar.

“Esse tema que estamos debatendo hoje é de extrema importância, e está sendo debatido no momento correto. Temos problemas crônicos e a saúde tem pressa. Como representante da categoria, quero trazer especificamente o sentimento dos colegas médicos diante da situação que estão passando”, afirmou Dr. Leonardo Alcântara.

Conforme o presidente do Sindicato dos Médicos, diariamente, a entidade recebe queixas, reclamações e apelos de médicos diante das situações que estão presenciando nos plantões. Ele citou relatos de profissionais que saem do plantão chorando, que estão em situação de Burnout, por estarem vivenciando momentos de caos na emergência do HIAS.

“Na pandemia, por tudo que passamos, o aprendizado que a gente poderia ter extraído, seria a capacidade de uma resposta rápida nestas situações. Essa é uma situação emergencial, que está levando à gravidade os quadros clínicos, principalmente pediátricos. Na pandemia, houve um volume menor de demanda pediátrica e agora não estamos mostrando capacidade de resolução do problema, na qual é necessário contratação de profissionais, melhoria na  estrutura e compra de medicamentos”, destacou o Dr. Leonardo Alcântara.

Ainda em sua fala, o presidente do Sindicato dos Médicos criticou a politica de fechamento de unidades hospitalares no Ceará nos últimos anos, o fechamento de leitos, de atendimentos pediátricos, bem como pontuou sua preocupação com a terceirização e quarteirização da saúde pública e os constantes atrasos salariais dos profissionais.

O deputado estadual Romeu Aldigueri, líder do governo na Assembleia Legislativa do Ceará, participou virtualmente, onde ressaltou todas as ações realizadas pelo Governo do Ceará, como a ampliação de hospitais, os consórcios de saúde e a construção do hospital universal dentro do campus da Universidade Estadual do Ceará (Uece). “As cooperativas médicas estão presentes em vários estados, é uma realidade, mas o Ceará está fazendo sua parte e fez o maior concurso público da história e aprovamos em lei por unanimidade a convocação de seis mil profissionais estatutários, já vamos contratar dois mil este ano, diminuindo a precarização do trabalho através de cooperativas médicas”, afirmou o deputado.

A subdefensora Pública-Geral do Ceará, Sâmia Costa Farias, ressaltou que a Defensoria Pública do Estado do Ceará, por meio do Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa), tem buscado solucionar demandas de forma administrativa de pedidos, como marcação de consultas e exames, para evitar judicialização da saúde e dar um tratamento mais célere. “Acredito que todos agem com muita responsabilidade e precisamos que unam forças pensando na população vulnerável”, disse.

O presidente do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), Flávio Deulefeu, também participou virtualmente. Na ocasião, ressaltou a complexidade do sistema de saúde e colocou a sua visão para que as organizações sociais (OS) não sejam comparadas a cooperativas e terceirizações. De acordo com ele, cerca de 90% dos profissionais do ISGH são celetistas, com salários em dias e direitos trabalhistas garantidos. “Apesar de toda dificuldade, o profissional de saúde quer servir, é algo extremamente positivo”, afirmou.

Pediatria

Em seguida, o presidente da Comissão de Saúde da OAB-CE, Ricardo Madeiro, apontou que, apesar de o Estado ter equipamentos e estruturas em boas condições, os serviços não funcionam. Ele citou que nesta semana o Hospital Infantil Albert Sabin atingiu o número de 120 crianças à espera de leito e apontou que a crise está sendo gerada pela desassistência que deveria ocorrer na atenção primária e secundária.

“As Unidades Básicas de Saúde (UBS) que seriam porta de entrada, não estão fazendo seu papel. As equipes de saúde estratégicas da família estão totalmente desestruturadas, não existem mais essas equipes, a pediatria nos postos de saúde acabou. Temos em torno de 13 pediatras para 175 postos de saúde, essas crianças procuraram acesso nessas unidades e não encontram, vão para os hospitais secundários, que fecharam os serviços, estão indo para os de alta complexidade, como o HIAS, onde 70% das crianças têm perfil de crianças secundárias”, afirmou o advogado.

Ricardo Madeiro também alertou sobre a recente decisão da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS), de colocar 23 pediatras em 23 postos de saúde da Capital para desafogar o hospital terciário. No entanto, não houve a contratação de novos médicos. Segundo o presidente da comissão, são servidores já lotados nas unidades que vão suspender as consultas eletivas para atender emergências no período de 70 dias. “A medida não vai resolver o problema, precisaria, sim, contratar mais profissionais”, finalizou apelando pelo fim da terceirização no Brasil.

Sesa

Em participação virtual, a secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara, ressaltou o plano de contingência realizado em fevereiro deste ano para o enfrentamento do período de sazonalidade. Entre as medidas tomadas, a secretária citou a antecipação do calendário vacinal, a abertura de nova emergência no HIAS, de 118 leitos de internamento e a abertura de mais 10 novos leitos nesta segunda-feira (08) em um hospital filantrópico em Fortaleza. Além disso, citou a convocação de dois mil profissionais concursados este ano, do esforço para que os serviços realizados por cooperativas sejam apenas um complemento, dos investimentos para descentralizar os serviços de saúde e da regionalização para desafogar a fila de espera por cirurgias.

“Tínhamos Prefeitura de Fortaleza e Estado vivendo em perfeita harmonia, atualmente os grupos não vivem na mesma aliança e os problemas se destacam, com um colocando culpa no outro e a população pagando preço caro por isso”, afirmou o deputado estadual Sargento Reginauro durante a audiência.

Em sua fala, o deputado estadual Carmelo Neto destacou: “espero que deste debate saia sugestão e medidas concretas para aliviar os problemas de saúde do Ceará”.

Durante a audiência pública, o senador Paulo Paim reiterou o alto nível do debate. “Tudo que estou ouvindo aqui, cabe para todo o Brasil, é um debate rico que estamos fazendo. Uma audiência pública tem o objetivo de trazer à luz os problemas de todos os estados, quero elogiar o requerimento e o debate que estamos fazendo”, afirmou.

Encaminhamentos

Ao final da audiência, Dr. Leonardo Alcântara, sugeriu retomar emergências pediátricas e a reabertura de hospitais que encontram-se fechados. “Este debate está sendo profícuo, vejo que há um reconhecimento dos problemas e soluções apontadas também. Não estamos apontando essa gestão, os últimos meses ou últimos dias, estamos tratando de problemas que se arrastam há anos e precisamos tratar”, finalizou.

Galeria de fotos

Fotos: Geraldo Magela/Agência Senado

Fonte: Comunicação do Sindicato dos Médicos do Ceará

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