Porque a Saúde Pública continua mal?

 

Escrito por

Dr. Paulo Everton Garcia Costa

 

Muito se fala da atual realidade da saúde pública brasileira e dos problemas da qualidade no atendimento do SUS. É de conhecimentos de todos que o SUS tem sido penalizado pela limitação orçamentaria, fechamento de leitos, falta de insumos e pela ausência de uma política séria de recursos humanos. Mas se somos conhecedores desta realidade, porque a saúde pública continua mal? A quem responsabilizar por todos estes problemas do SUS e pela ausência de soluções eficazes? Obviamente que a tarefa, que cabe a gestores de todas as esferas: Federal, estadual e municipal, não é nada fácil! Entretanto parece evidente e necessário o enfrentamento eficaz por parte destes gestores, o financiamento devido da saúde e o envolvimento dos profissionais de saúde, especialmente do médico. Médico que não compreendeu que foi sua acomodação histórica que fez com que ele tivesse pouca percepção das mudanças pelas quais o sistema de saúde passou e passa continuamente. 

 

O médico perdeu o controle do sistema e pior que isso, afastou-se dos processos administrativos da parte que lhe cabia, ficou alheio e omisso as mudanças nas políticas de gestão e está pagando caro o preço desta omissão. Médicos e profissionais de saúde do setor público passaram a ter remunerações mais baixas que foram compensadas pelo excesso de trabalho. Como consequência muitos se tornaram desmotivados, mal-humorados, infelizes e cansados de tantas dificuldades para exercer suas profissões com dignidade. Soma-se a isso a “roda-viva de uma realidade desoladora oferecida, pelos governantes, para a assistência aos pacientes, que são jogados ao abandono das emergências sem leitos de retaguarda ou das precárias unidades de saúde, especialmente nos locais mais carentes.

A questão do amadorismo e da pouca competência da gestão pública, no uso dos recursos disponíveis, merece comentário a parte, porque nos remete a um cenário obscuro em que somente a transparência e a fiscalização podem trazer a verdade que possibilite soluções efetivas. Gestores apadrinhados por políticos e despreparados em um cenário de um mundo moderno, tecnológico, dinâmico e corporativo é a receita certa do fracasso. Não há mais lugar para principiantes!. Os princípios do SUS de universalidade, equidade e integralidade, precisam ser respeitados e a não adoção de medidas, por parte dos governantes, para solucionar os problemas de gestão, é uma agressão aos direitos e a dignidade dos pacientes.

O problema da insegurança jurídica das relações de trabalho, também são uma vergonha para os gestores da saúde e para a sociedade brasileira. Há necessidade de reformas, ampliações, aquisição de equipamentos e insumos, mas é imprescindível a retomada da valorização dos profissionais da saúde!. A precarização do trabalho destes profissionais é a causa da baixa capacidade de atração e fixação dos mesmos na rede pública, especialmente nas áreas mais distantes ou periferia dos grandes centros urbanos. Infelizmente as soluções apresentadas nas últimas décadas deixa evidente a incompetência dos governantes e gestores da saúde deste país, que preferiram os vínculos trabalhistas frágeis, a criação de empresas de gestão terceirizadas conhecidas como OS ( Organizações de Saúde) e os programas eleitoreiros, à realização de concurso público para o SUS e criação de carreira de estado para trabalhadores da saúde, com possibilidade de progressão funcional e salário justo.
A solução para a crise da saúde pública passa por honestidade, desprendimento de interesses escusos e muita vontade política.

Na minha juventude ouvi a seguinte frase: “Enquanto houver, neste Pais, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda prosperidade será falsa” (Tancredo Neves). Para fraseando aquele ilustre e saudoso brasileiro me arrisco a dizer: enquanto houver, neste país, pacientes sem acesso a serviços de saúde de qualidade e profissionais de saúde desvalorizados, toda prosperidade será uma ilusão. Mas deixo claro para finalizar: A Esperança é uma semente muito forte…

 

 

Colunista

Dr. Paulo Everton Garcia Costa – CRM 5854
Médico do HUWC da UFC. Presidente da Associação dos Médicos do Regime Jurídico da Universidade Federal do Ceará.

 

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